sábado, 14 de novembro de 2015

Os bens e o sangue (Carlos Drummond de Andrade)

Carlos Drummond de Andrade (nascido em Itabira/MG, município vizinho de Mariana) escreveu este poema em 1951 quando lendo documentos viu que a exploração do ouro em MG declinou e por volta de 1850 a maioria dos donos se desfez de suas jazidas e benfeitorias.

 OS BENS E O SANGUE (Claro enigma)

I
Às duas horas da tarde deste nove de agosto de 1847
nesta fazenda do Tanque e em dez outras casas de rei, q não de valete
em Itabira Ferros Guanhães Cocais Joanésia Capão
diante do estrume em q se movem nossos escravos e da viração
perfumada dos cafezais q trança na palma dos coqueiros
fiéis servidores de nossa paisagem e de nossos fins primeiros,
deliberamos vender, como de fato vendemos, cedendo posse jus e domínio
e abrangendo desde os engenhos de secar areia até o ouro mais fino,
nossas lavras mto. nossas por herança de nossos pais e sogros bem-amados
q dormem na paz de Deus entre santas e santos martirizados.
Por isso neste papel azul Bath escrevemos com a nossa melhor letra
estes nomes q em qualquer tempo desafiarão tramoia trapaça e treta:

ESMERIL PISSARRÃO
CANDONGA CONCEIÇÃO

E tudo damos por vendido ao compadre e nosso amigo o snr. Raimundo Procópio
e a d. Maria Narcisa sua mulher, e o q não for vendido, por alborque
de nossa mão passará, e trocaremos lavras por matas,
lavras por títulos, lavras por mulas, lavras por mulatas e arriatas,
q trocar é nosso fraco e lucrar é nosso forte. Mas fique esclarecido:
somos levados menos por gosto do sempre negócio q no sentido
de nossa remota descendência ainda mal debuxada no longe dos serros.
De nossa mente lavamos o ouro como de nossa alma um dia os erros
se lavarão na pia da penitência. E filhos netos bisnetos
tataranetos despojados dos bens mais sólidos e rutilantes portanto os mais completos
irão tomando a pouco e pouco desapego de toda fortuna
e concentrando seu fervor numa riqueza só, abstrata e una.

LAVRA DA PACIÊNCIA
LAVRINHA DE CUBAS
ITABIRUÇU

II

Mais que todos deserdamos
deste nosso oblíquo modo
um menino inda não nado
(e melhor não fora nado)
que de nada lhe daremos
sua parte de nonada
e que nada, porém nada
o há de ter desenganado.

E nossa rica fazenda
já presto se desfazendo
vai-se em sal cristalizando
na porta de sua casa
ou até na ponta da asa
de seu nariz fino e frágil,
de sua alma fina e frágil,
de sua certeza frágil
frágil frágil frágil frágil

mas que por frágil é ágil,
e na sua mala-sorte
se rirá ele da morte.

III

Este figura em nosso
pensamento secreto.
Num magoado alvoroço
o queremos marcado
a nos negar; depois
de sua negação
nos buscará. Em tudo
será pelo contrário
seu fado extra-ordinário.
Vergonha da família
que de nobre se humilha
na sua malincônica
tristura meio cômica,
dulciamara nux-vomica.

IV

Este hemos por bem
reduzir à simples
condição ninguém.
Não lavrará campo.
Tirará sustento
de algum mel nojento.
Há de ser violento
sem ter movimento.
Sofrerá tormenta
no melhor momento.
Não se sujeitando
a um poder celeste
ei-lo senão quando
de nudez se veste,
roga à escuridão
abrir-se em clarão.
Este será tonto
e amará no vinho
um novo equilíbrio
e seu passo tíbio
sairá na cola
de nenhum caminho.

V

— Não judie com o menino,
compadre.
— Não torça tanto o pepino,
major.
— Assim vai crescer mofino,
sinhô!

— Pedimos pelo menino porque pedir é nosso destino.
Pedimos pelo menino porque vamos acalentá-lo.
Pedimos pelo menino porque já se ouve planger o sino
do tombo que ele levar quando monte a cavalo.

— Vai cair do cavalo
de cabeça no valo.
Vai ter catapora
amarelão e gálico
vai errar o caminho
vai quebrar o pescoço
vai deitar-se no espinho
fazer tanta besteira
e dar tanto desgosto
que nem a vida inteira
dava para contar.
E vai muito chorar.
(A praga que te rogo
para teu bem será.)

VI

Os urubus no telhado:
E virá a companhia inglesa e por sua vez comprará tudo
e por sua vez perderá tudo e tudo volverá a nada
e secado o ouro escorrerá ferro, e secos morros de ferro
taparão o vale sinistro onde não mais haverá privilégios,
e se irão os últimos escravos, e virão os primeiros camaradas;
e a besta Belisa renderá os arrogantes corcéis da monarquia,
e a vaca Belisa dará leite no curral vazio para o menino doentio,
e o menino crescerá sombrio, e os antepassados no cemitério
se rirão se rirão porque os mortos não choram.

VII

Ó monstros lajos e andridos que me perseguis com vossas barganhas
sobre meu berço imaturo e de minhas minas me expulsais.
Os parentes que eu amo expiraram solteiros.
Os parentes que eu tenho não circulam em mim.
Meu sangue é dos que não negociaram, minha alma é dos pretos,
minha carne, dos palhaços, minha fome, das nuvens,
e não tenho outro amor a não ser o dos doidos.

Onde estás, capitão, onde estás, João Francisco,
do alto de tua serra eu te sinto sozinho
e sem filhos e netos interrompes a linha
que veio dar a mim neste chão esgotado.

Salva-me, capitão, de um passado voraz.
Livra-me, capitão, da conjura dos mortos.
Inclui-me entre os que não são, sendo filhos de ti.
E no fundo da mina, ó capitão, me esconde.

VIII

— Ó meu, ó nosso filho de cem anos depois,
que não sabes viver nem conheces os bois
pelos seus nomes tradicionais... nem suas cores
marcadas em padrões eternos desde o Egito.

Ó filho pobre, e descorçoado, e finito
ó inapto para as cavalhadas e os trabalhos brutais
com a faca, o formão, o couro... Ó tal como quiséramos
para tristeza nossa e consumação das eras,
para o fim de tudo que foi grande!
Ó desejado,
ó poeta de uma poesia que se furta e se expande
à maneira de um lado de pez e resíduos letais...
És nosso fim natural e somos teu adubo,
tua explicação e tua mais singela virtude...
Pois carecia que um de nós nos recusasse
para melhor servir-nos. Face a face
te contemplamos, e é teu esse primeiro
e úmido beijo em nossa boca de barro e de sarro.
Carlos Drummond de Andrade (2 de fevereiro de 1951)

#PrayFor...

 Só orar não vai adiantar em nada enquanto não repensarmos nossas atitudes no mundo, enquanto seguirmos levando uma vida sem ética, enquanto seguirmos priorizando nossos interesses pessoais em detrimento do bem coletivo, enquanto seguirmos julgando as dores e tragédias de cada um seja elas quais forem, enquanto seguirmos interpretando errado as mensagens de amor dos livros "sagrados", enquanto não mudarmos a nossa atitude junto ao meio ambiente, enquanto não exigirmos dos nossos governantes e suas instituições públicas atitudes que resolvam as mazelas do povo.
Ore, mas lembre que só orar não vai adiantar em nada porque todos os problemas que vemos atualmente são frutos de nossas próprias atitudes e nosso desleixo com as coisas do mundo.
Por um mundo mais justo com amor e paz. A mudança em cada um de nós é que realmente fará a diferença no mundo.
Só basta olharmos para fora de nossas janelas. ‪#‎Pense‬ ‪#‎Mude‬ ‪#‎Ame‬

14/11/2015

domingo, 8 de janeiro de 2012

O BUDISMO

FIKDIK DESTE TEXTO...QUE RESUME DE UMA FORMA SIMPLES A FILOSOFIA BUDISTA...ÓTIMA LEITURA PARA ABRIR O BLOG EM 2012 DEPOIS DE ALGUNS MESES PARADO.

Namastê, e um novo ano cheio de muita luz, paz e força em nossas lutas diárias.

Nicole

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O budismo é a religião que mais cresce nos países ocidentais nas últimas décadas. Surgido na Índia há 2500 anos, muitas de suas ideias hoje são defendidas pela ciência, a medicina e a psicologia modernas

01 de Janeiro de 2012 às 00:16

Por Luis Pellegrini

Muita gente célebre virou budista. Casos notórios de estrelas como o ator Richard Gere, a cantora Tina Turner, o músico Jean Michel Jarre, publicamente convertidos, parecem constituir apenas a ponta de um iceberg, cujas verdadeiras dimensões ainda permanecem submersas.

O budismo é a religião que mais cresce no Ocidente nas últimas décadas. Por que ele faz tanto sucesso no mundo moderno da tecnologia, da produtividade e do consumismo? Para começar, o budismo recusa definir a si próprio como religião. Prefere o termo “filosofia de vida”. Embora criado no século 5 antes de Cristo por um príncipe do norte da Índia, Sidarta Gautama, o conceito de base dessa filosofia é idêntico ao da ciência e da psicologia modernas: a idéia do holismo. Holismo vem do grego holos, “totalidade”. Significa que no universo nada existe separado do todo; há uma unidade essencial de todas as coisas; o homem é parte dessa unidade; não é possível qualquer mudança numa parte sem que o todo não seja também afetado; da mesma forma, qualquer mudança no todo afetará cada uma das suas partes.

Até na ecologia o holismo budista está presente: qualquer alteração introduzida num aspecto da natureza provocará uma reação em cadeia que irá alterar todos os demais aspectos. Quando se polui o ar, por exemplo, fatalmente irá se poluir também as águas e a terra, bem como o organismo de todos os seres que respiram, humanos inclusive. A mesma idéia está no cerne das psicologias contemporâneas e da medicina psicossomática. Um problema de tipo emocional acabará por desencadear disfunções no corpo físico, no equilíbrio da mente e em todas as demais partes do ser humano. Da mesma forma, um distúrbio mental, ou físico, afetará rapidamente todo o resto.

A modernidade do budismo não termina aí. Sua doutrina afirma que a única possibilidade de se chegar à plenitude, de se conquistar uma relativa felicidade, é “cair na real”. É compreender e aceitar a realidade como ela é, no aqui-agora. Ao contrário da maioria das religiões, paraísos fantasiosos, soluções mágicas para os problemas, esperanças de uma existência melhor após a morte, não fazem parte da visão budista.

Assumir a realidade, por mais dura e difícil que ela seja, é o primeiro passo que o budismo aconselha para quem deseja viver melhor. Boa ilustração disso é o episódio da vida de Sidarta Gautama que assinala a origem da sua aventura espiritual. Tudo começou, segundo a lenda, quando ele, com quase trinta anos, decidiu sair pela primeira vez do palácio de seu pai para conhecer o mundo. Sidarta era casado com uma linda mulher e tinha um filho pequeno. Seu pai, rajá da tribo dos Sakya, desde o nascimento o proibira de ultrapassar os muros do palácio, sob o pretexto de poupá-lo da visão de qualquer miséria. Por isso, Sidarta desfrutara ao máximo de uma vida de luxos e prazeres mundanos.

Um dia, Sidarta desobedeceu às ordens do pai. Passou pelos pórticos do palácio e aventurou-se na cidade ao redor. Cruzou com um velho, um doente e um morto - três situações humanas totalmente desconhecidas para ele. Esses encontros o fizeram despertar para uma consciência nova: o sofrimento de toda a humanidade, e a inevitável finitude de tudo aquilo que existe. O destino do jovem príncipe estava selado: ele decidiu dedicar a vida à descoberta dos meios que conduzem à liberação do sofrimento.

Pouco depois Sidarta abandonou para sempre o palácio real, deixando a família e abdicando da sua condição de herdeiro do trono. Partiu sozinho numa longa caminhada . Encontrou muitos mestres espirituais e filósofos eruditos. Estudou com eles e praticou seus métodos, mas não ficou satisfeito. Embrenhou-se numa floresta e viveu alguns anos como iogue eremita, empenhado em tremendas práticas ascéticas destinadas a proporcionar-lhe o controle sobre a mente e o corpo. O resultado foi um corpo extremamente enfraquecido, e a mente abatida. Ele então entendeu que o controle da mente e do corpo por si só não proporcionava a liberação. Longe disso, ele se deu conta de que o corpo era um dos seus aliados mais preciosos, não devendo ser maltratado com práticas ascéticas nem com excessivas concessões aos sentidos.

Essa tomada de consciência aconteceu quando Sidarta, exausto e combalido, ouviu ao longe um professor de música dizer a um jovem aluno que tentava afinar a corda do seu instrumento: “Se apertar demais, a corda arrebenta; se deixá-la frouxa, não produzirá nenhum som”.

Sidarta estremeceu ao reconhecer a verdade universal contida naquele conselho. Era ele mesmo aquela corda musical que, para produzir o som perfeito, não poderia estar demasiado frouxa nem esticada em excesso. Havia um ponto ideal e exato entre esses dois extremos, o ponto de equilíbrio entre tensão e relaxamento, sem o que o som puro não podia se manifestar. Naquele instante nasceu em Sidarta a consciência do equilíbrio. E a partir dela ele formulou, pouco depois, a sua “Doutrina do Caminho do Meio”. A doutrina fio de navalha que conduz ao nirvana - a extinção de todo sofrimento e de toda dualidade, objetivo último de toda a prática budista.

A consciência do equilíbrio fez Sidarta abandonar o caminho mortificante da autonegação e entrar no Caminho do Meio. Alimentou-se, banhou-se, vestiu roupas limpas. Sentou-se depois sob uma grande árvore e descobriu, enfim, o que queria: num repente de esclarecimento atingiu a iluminação, a verdade viva que buscava. Naquele instante, Sidarta tornou-se um Buda, que significa um “desperto”. Todo o resto de sua vida foi dedicado ao desenvolvimento e ao ensino da sua filosofia da moderação.

Esta é a lenda de Sidarta Gautama, o Buda. Qual é a mensagem que ele legou ao mundo? Antes de tudo, que cada ser humano tem a capacidade de atingir a iluminação e tornar-se um Buda. Mas isso depende dele mesmo, e não há força ou ajuda externa capaz de fazer isso por ele: “O homem é seu próprio mestre, e não existe ser ou força superior que se ponha como juiz do seu destino”, disse o Buda. Ele preconiza uma busca que acontece dentro da própria pessoa, uma sintonia com aquela “voz interior” que fala no mais profundo de cada um de nós. Essa voz, para o budismo, é a do discernimento: a capacidade intrínseca da consciência humana capaz de distinguir o que é certo do que é errado. Por isso, a crença cega é abominada pelo budismo. Somos nossa própria autoridade na busca espiritual. Não existe verdade revelada nem escritura sagrada, não existe dogma nem salvador. Tudo depende de nós mesmos.

Embora seja uma das religiões do mundo com maior número de adeptos, os valores essenciais do budismo são muito simples. Já em seu primeiro sermão, Buda expôs as Quatro Verdades Nobres, que são: 1) Toda a vida é sofrimento; 2) A origem do sofrimento são os desejos egoístas, os sentimentos do ódio e da raiva, os apegos de qualquer tipo; 3) A extinção do sofrimento é obtida pela cessação dos desejos egoístas, dos ódios e dos apegos; 4) O caminho que conduz à libertação do sofrimento é o Nobre Caminho Óctuplo.

Desse Caminho fazem parte uma série de regras teóricas e práticas, de tipo psicológico para a educação da psique; de tipo mental para desenvolver a disciplina da mente; de tipo ético, para aprimorar a conduta moral. Essas regras, devidamente aplicadas, conduzem a uma vida equilibrada e harmoniosa, e finalmente à libertação do sofrimento e à iluminação espiritual.

Acima, porém, de todas as regras, o valor máximo para o budismo é o amor. Sentimento supremo que, particularmente nas escolas mahayana do budismo (as escolas desenvolvidas principalmente no norte da Índia, no Tibete, China e Japão), manifesta-se na forma da compaixão. Sem a vivência do amor compassivo - em primeiro lugar pela nossa própria pessoa, e a seguir por todas as criaturas vivas -, todas as demais virtudes ficam destituídas de força e sentido. Diferente do amor passional, que exige um objeto preciso para ser direcionado, o amor compassivo tende a levar a pessoa a um permanente e difuso sentimento de amor por tudo aquilo que existe. A conquista desse estado amoroso difuso é sinal de que estamos nos aproximando do self.

Como desenvolver o amor compassivo? Pelos métodos práticos da meditação: um estado particular da consciência no qual somos inteiramente donos de nós mesmos, com controle total dos nossos pensamentos, emoções e sentimentos, e das nossas ações corporais. A meditação leva ao autoconhecimento que, por sua vez, faz desabrochar em nós a compaixão.

A meditação é um processo mental ativo. O meditador aprende, pouco a pouco, a dominar a sua mente tagarela, onde os pensamentos se sucedem uns aos outros, se amontoam, começam e não terminam, acarretando um grande desgaste de energia mental. Por outro lado, o sábio hindu Patanjali, que escreveu há muitos séculos o Ioga Sutra, o mais importante tratado sobre meditação produzido até hoje, diz que “meditação é a contínua e prolongada corrente de pensamento dirigida a um objeto determinado, até chegar a se absorver nele”. Em outras palavras, Patanjali quer dizer que o meditador direciona e fixa toda a sua atenção sobre um objeto como se o seu pensamento fosse um raio laser luminoso, concentra-se nele de modo contínuo, sem permitir que nada interrompa essa concentração, até chegar ao verdadeiro objetivo da meditação: fundir-se de tal forma ao objeto de modo a que não mais exista nenhuma diferença entre ele, meditador, e o objeto sobre o qual medita. Para o budismo, quem consegue dominar a própria mente, domina tudo o mais, inclusive a vida e o mundo.

As formas de meditação budista

No budismo existem duas formas principais de meditação: a) meditações estáticas; b) meditações dinâmicas. Nas primeiras, o meditador permanece quieto, parado, sem nenhum movimento corporal; apenas a sua mente se move, como uma flecha que o arqueiro dispara e que voa certeira em direção ao alvo - a imagem ou a idéia sobre a qual se medita. Nas segundas, as dinâmicas, o meditador não precisa bloquear os movimentos corporais. Exemplos dessas meditações são certas artes marciais como o tai-chi-chuan, certos exercícios físicos como os da hatha-ioga, certas danças sagradas como as danças rituais do nosso candomblé e umbanda. Mas qualquer atividade humana - cozinhar, bordar, escrever ou cuidar das plantas - pode ser uma meditação verdadeira se for praticada com a consciência bem desperta, e com o coração limpo e amoroso como aquele das crianças.

Lembre-se que tanto no caso das meditações budistas estáticas, quanto no das dinâmicas, quer-se chegar primeiro a um estado de relaxamento profundo - quase que uma suspensão dos movimentos desordenados do corpo, das emoções e da mente. Esse estado, por si só, acarreta uma série de benefícios aos corpos físico, psíquico e mental, e é um primeiro patamar para a prática de exercícios mais complicados que necessitam de instrutores competentes. Há contudo formas básicas de meditação que você pode experimentar agora, sem depender de um instrutor.

Primeiro, sente-se numa posição confortável, numa cadeira também confortável, num cantinho calmo e silencioso. Cuide para não ser perturbada nem interrompida durante pelo menos quinze minutos. É melhor que seus pés fiquem pousados no chão e suas mãos bem relaxadas sobre o colo. A roupa também é importante: deve ser solta e larga.

Agora, feche com suavidade os olhos e relaxe o corpo por completo. Faça isso aos poucos, começando pelos dedos dos pés, e subindo até chegar à cabeça.

Respire profundamente pelo nariz, concentrando-se, até que a respiração se torne suave e regular. Se começar a divagar, traga sua atenção de volta para a respiração.

Esvazie sua cabeça de todo e qualquer pensamento. Uma forma de fazê-lo é dirigir a atenção para um ponto de seu corpo, como a testa, o cotovelo ou algum dedo dos pés ou das mãos. Mantenha sua atenção concentrada nesse lugar. A respiração vai se tornar quase imperceptível.

Fique nesse relaxamento, com a mente vazia, por quinze ou vinte minutos. Depois, abra devagar os olhos e saia gradualmente desse estado. Procure se deliciar com essa tranqüilidade durante alguns minutos. Então, levante-se lentamente, esticando o corpo da cabeça aos pés, como quem se espreguiça. Esse simples exercício de meditação, quando bem feito, pode dar o mesmo resultado de um dia inteiro de agradável descanso.

Sabedoria budista

1. “O mundo, o mundo do dia-a-dia, parece caótico ou pacífico, feio ou belo, dependendo da nossa mente. Fazemos o mundo do jeito que desejamos fazê-lo em nossa mente. Uma mente feia e nervosa não consegue ver beleza e paz no mundo. É como ver o mundo através de lentes coloridas. Quando tiramos as lentes coloridas, veremos o mundo e as coisas tais como realmente são. Ver as coisas tais como elas são e compreender as coisas tais como elas são é a chave para o nirvana. O nirvana é o conteúdo da iluminação”, Gyomay Kubose.

2. “A personalidade é uma ilusão, e não há no mundo nem vício nem pecado que não derive da afirmação da personalidade”, Iogue Kharishnanda.

3. “Dez coisas tornam más as ações dos homens. Três são os pecados do corpo, quatro os da língua e três os da alma. Os três pecados do corpo são: o homicídio, o roubo, o adultério. Os quatro da língua são: a mentira, a calúnia, a injúria, as palavras ociosas. Os três pecados da alma são: a avareza, o ódio, o erro”, Gautama Buda

4. “O trabalho é vida, a preguiça é morte. Quem trabalha está sempre vivo. O preguiçoso, mesmo que viva, está morto”, Iogue Kharishnanda

5. “Procure estar atento e deixe que as coisas sigam o seu curso natural. Então a sua mente se manterá serena em qualquer circunstância, como uma tranquila lagoa na floresta”, Achaan Shah

6. “É você mesmo quem deve caminhar; o Buda apenas aponta-lhe o caminho”, Bhikku Mangalo

7. “Não corra atrás do passado, nem busque pelo futuro; o passado se foi e o futuro ainda não veio. Observe, porém, com clareza, aquilo que existe agora, e então você vai descobrir e vivenciar um estado de mente silencioso e imóvel”, Gautama Buda

8. “Uma única natureza contem todas as naturezas; uma única existência inclui todas as existências. Uma única Lua se reflete em todas as águas, e todos os reflexos da Lua nas águas provêm de uma única Lua”, Yoka Daishi

9. “Se um homem em batalha conquista milhares, e outro homem conquista a si próprio, a vitória deste será maior”, Gautama Buda

10. “Esvazia o barco: vazio, ele se moverá mais rápido. Deixa para trás a paixão e o ódio, e navega para o nirvana”, Gautama Buda

11. “O que somos nasce do que pensamos, é feito de nossos pensamentos. Se um homem fala ou age com maus pensamentos em seu coração, o sofrimento o seguirá como a roda segue o animal que puxa a carroça”, Gautama Buda

12. “Subhuti perguntou a Buda: Quando atingiste a iluminação ganhaste alguma coisa? Nada, respondeu Buda. Esse é o motivo pelo qual isso é chamado de iluminação”

13. “A vida e a morte não são boas nem más, feias ou bonitas; apenas são tais como são - ou tais como você as vê. Todos nós apreciamos o desabrochar da primavera e o verde suave do verão. Mas, acaso também não são belas as douradas folhas mortas do outono? As folhas do outono são mais poéticas que o verde do verão. A primavera é romântica, mas o outono é sereno e meditativo”, Gyomay Kubose

Mais info: cbb.bodhimandala.com

domingo, 19 de junho de 2011

Sentir AINDA é Necessário.

HUMMM... gostei do texto da moça... e penso o mesmo, nesta sociedade da rapidez em tudo, informação rápida, lanches rápidos... não podemos esquecer que somos uma pessoa e não um computador onde se apaga um arquivo para inserir outro... sei que não é fácil, que a gente se cobra, quer sair logo da fossa, quer logo amar de novo... mas sentimento é sentimento, e deve sim ser sentido, deve sim ser sofrido, deve sim ser chorado, amado, sorrido... Que a gente se permita viver no nosso tempo, que a gente se permita... acho que dar uma sofridinha é bom: ensina... e a fossa nos ajuda, ajuda a querer levantar...

Namastê,
Nicole


Por Dra. Juliana Amaral

Psicóloga


Sentir AINDA é Necessário.
"Como superar essa fase de separação de uma união de 4 anos de vida a dois, onde após alguns meses separados (quase dez) se descobre que o ex tem outra pessoa... é uma sensação estranha, difícil! Não sei explicar exatamente o que se passa. Tento ser neutra a tudo isso mas no fundo, no fundo isso me incomoda, e muito! Por favor, me digam se isso está dentro da normalidade...O que eu posso fazer para aliviar essa ansiedade toda...Tenho levado minha vida, então, porque isso ainda mexe comigo?"

Peguei emprestado um trecho da história e dos sentimentos de uma usuária que dividiu um pouco da fase que atravessa.

O que captura minha atenção são as demonstrações de seus sentimentos que, embora não estejam explícitos nas linhas, estão contextualizados na; culpa por sentir dor, tristeza, raiva, sensação de estranhamento e "erro" por não estar pronta, curada e preparada para uma nova jornada afetiva, nos conflitos que a fazem sentir-se inadequada.

Na forma de cultura vigente, percebemos cada vez mais que pessoas e máquinas vivem praticamente em nível de igualdade. Hoje dizemos que uma pessoa não sonha mais em ser como alguém que admira, hoje os jovens buscam ser como máquinas, o ideal de ser é o ideal da rapidez, da precisão, da velocidade, da tecnologia. Sentir pra que? Sentir por quê? Acredita-se ser possível deletar e apagar pessoas e sentimentos como fazemos em nossos computadores e assim muitos fazem com a vida dos outros e com as próprias.

Inúmeras vezes chamamos de isso nossa própria vida, sentimentos, nossa história, como se fosse algo menor, como se considerá-los diminuísse o valor que temos no mundo, como se sentindo nos tornássemos fracos. Usamos um pronome quase depreciativo, isso, para no fim falarmos de nós mesmos. Essa crença traz culpa para aqueles que sentem, que entram em contato com seu mundo interno, com seu rico e valioso mundo interno, cada vez mais deixado em segundo plano, cada vez mais banalizado, cada vez mais considerado como alguma coisa estranha e desnecessária. Se culpam porque ainda não se recuperaram, porque ainda sofrem, porque sentem.

Considerar a existência do mundo interno é entrar em contato, sentir, sofrer, viver conflitos, amar, sorrir...nos dias onde todos buscam uma vida como vista em comerciais de TV, como fazer quando, em um certo momento, o que temos, sentimos ou vivemos em nada se compara com a alegria lá fora? E aí entra em cena a urgência de finalizar a dor, a pressa que leva muitos a dizerem "eu ainda sofro pelo fim do casamento, está certo sentir assim?"

A urgência não deveria estar na rápida tentativa de aniquilar os sentimentos e sim no retorno ao ritmo humano e natural dos sentimentos, com início, meio e desfecho. Seria possível então atravessar a dor com o tempo e respeito necessários, sem a idéia de que vivê-la é errado ou inapropriado, é simplesmente humano. Teme ser fraco ou frágil aquele que ainda chora, ainda pensa, ainda sente. Claro que não quero por meio do artigo dizer que o sofrimento deve ser eterno ou cultivado, ele precisa ser considerado e respeitado porém cuidado e tratado para que através dele advenha um maior conhecimento sobre si e um crescimento emocional. Mais forte e saudável será aquele que admite sua dor, aceita, lida e transforma.



terça-feira, 24 de maio de 2011

Caio...

Então não o ama mais? Amo. Só guardei isso num cofre. E tranquei. E esqueci a senha. Não porque quis. Foi preciso. (C.F.A)

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Mais...

Mais Gabito...

"Não pense que é por falta de amor ou desejo. Às vezes, me sinto meio sem rumo num mundo tão hostil, complicado e descolorido."


...que as vezes parece que escreve para mim... que as vezes pareço ficar distante.... e fico, preciso dos meus momentos de distanciamento...

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Ah, pois é...(Gabito)

Andei meio longe... mas em breve retomo o espaço... Começo pelo texto mais recente de um cara que gosto muito, Gabito Nunes... aconselho que todos entrem no seu blog pois tudo que ele escreve é extremamente maraaaa.... http://www.carascomoeu.com.br/

Namastê,
Nicole

Ah, pois é

É sexta-feira. Hoje ele não deu as caras e você ficou sem saber como fazer com aquele dia. São quase dez. É ele telefonando pra você, a garota angustiada. Você sabe quem é pelo alarme personalizado. Adora a música, lembra ele e aquele primeiro dia. Prepara o timbre sonolento de desdém. Ele quer resolver a situação. Gosta das coisas bem certinhas. Ele pressiona. Você reage. Falando sério, você andava angustiada, mas solta um confusa. Você age de modo vago, ríspido e meio sem rumo, cheia de rimas desencontradas.

Ele desliga, que moço intempestivo. Os minutos passam e você não dá o menor sinal de vida ou remorso. Oito minutos depois, Chris Martin se pronuncia outra vez. Você pensa em jogar o aparelho pelo céu escuro da varanda, mas até que gosta do órgão introduzindo a canção. Finge não saber quem fala. É ele. O moço agora despeja seus sonhos interrompidos e tudo aquilo que você não quer ouvir. Que você não aprendeu nada. Que uma forma de amar que deu errado uma vez pode funcionar com outra pessoa, não existe amor errado. Que amor errado é amor não vivido, e se não foi vivido então não foi amor.

Bobagem. Imbecil. Desliga o telefone na cara do babaca, derretendo a última certeza de haver um príncipe encantado fora das telas do cinema. Ai, que ódio. Sente raiva e espera uma nova ligação. E espera. Outra meia-hora. E espera mais um pouco. Ele não liga e você fica triste. Mas vai atrás da sua alegria. A sexta-feira morreu e as horas atravessaram muitas ruas. Tudo ficou pra trás. Sua amiga diz que você tá irritantemente calada e resolve o problema com mais um ou dois drinques. É sexta-feira, menina de deus. Ânimo.

Ele tem uma cara de nojento e nome de artista internacional, mas vai logo encostando e pergunta seu nome. Você já adianta que sofre de baixa tolerância a papo furado. Sim, tá sozinha e mostra no braço a vacina contra cantadas idiotas. O babaca em nada se parece com ele, não é tímido. Mas você não precisa fazer biquinho e falar comportada, até pode às vezes arrotar drinques e sentimentos desconexos. Ele nem liga. E você fica feliz porque até que enfim alguém te escuta. Ele pode se tornar um super amigo, por que não? É, você dá pra ele.

O domingo nasce abortado e você manda a real. Deu pra ele. Ele quem? Não interessa, você não sabe dizer ao certo. É um nome não muito comum, mas não é isso que vem ao caso. O caso que, olha só, você quer explicar. Oi? Ele não quer mais saber. Bate a ligação na sua cara irônica do outro lado. Quem não aprendeu nada aqui? Quem sabe tudo sobre amor e não consegue vencer essa etapa? O amor, se existe, é tácito e imperfeito. Você sempre soube. Você é quem sabe. Ele não sabe de nada, tampouco o que vai perder. Otário, não sabe se jogar pra vida. E dá de ombros. Azar o dele.

Caminhando na calçada, um dia, ele comentou de um filme, como quem não queria assistir contigo mesmo. As tardes mortas agora se locomovem vagarosamente, em câmera lenta, tipo no tal filme esse. Ele não telefona. Mas por que você não liga? Porque tem as mãos atulhadas de fotos, não pode perder os detalhes que morrem em cada ínicio de outono. O dente da frente que brilhava no escuro. O tênis verde musgo. Quando ele brincava de se enforcar com seus cabelos. Os conselhos. Ah, pois é.

Pra ninguém, você pergunta se ele também pensa em você. Sem resposta, mas claro que sim. Com sombras de dúvida. Ninguém apaga tudo assim. Ele também ouve "Fix You" com o olhar triste no céu escuro da varanda. Claro que ouve. Aí você começa a desconfiar que ele poderia ter sido o cara legal da sua vida. Isso, se você sentisse a mesma paixão, se você conseguisse entregar sua alma tanto quanto, se você soubesse amar ele do mesmo jeito e intensidade que ama a falta que agora ele te faz.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Carpinejar para abrir o mês

Carpinejar para abrir o mês... li e amei... (preciso ler mais ele...)
Namastê,
Nic

Não me importo de esperar vinte minutos com a mão na maçaneta enquanto diz que já está pronta para trocar novamente de vestido. Não me importo de esperar dez minutos sozinho no saguão do cinema cumprimentando conhecidos e tentando segurar o refrigerante e os dois baldes de pipoca enquanto vai ao banheiro. Não me importo de esperar chegar em casa para que me diga quem é o amigo que a abraçou efusivamente na festa. Não me importo de esperar três horas na salinha do hospital para saber se a nossa criança nasceu. Não me importo de esperar as longas conversas de sua mãe sobre o meu temperamento. Não me importo de esperar seu corte de cabelo, que sempre envolve pintura, hidratação e escova. Não me importo de esperar a aprovação de suas amigas. Não me importo de esperar nossos filhos regressarem das baladas para me enfurnar em seu cheiro. Não me importo de esperar que tranque as portas antes de tirar o salto. Não me importo de esperar que volte das lojas com as sacolas dentro das outras sacolas para parecer que gastou menos. Não me importo de esperar que faça as pazes com Deus. Não me importo de esperar quando arruma o armário e doa metade das roupas. Não me importo em esperar que encontre a roupa que já deu na semana passada. Não me importo de esperar que o filme acabe para namorar. Não me importo de esperar que devolva as cobertas que rouba para seu lado de noite. Não me importo de esperar você consultar suas mensagens antes de sair. Não me importo de esperar sua irritação em dias de chuva. Não me importo de esperar você nunca me retornar ligações depois das reuniões. Não me importo de esperar que se acorde no domingo, com receio de que fique nublada. Não me importo de esperar que o ciúme desapareça e volte a me ver como se eu fosse somente seu. Não me importo de esperar sua TPM. Não me importo de esperar o melhor momento para viajar. Não me importo de esperar o tempo que precisa para descobrir que me ama. Ou o tempo que precisa para descobrir que não me ama. Não me importo de esperar que venha de repente nossa música no rádio. Não me importo de esperar as revelações de fotografias de sua máquina antiga. Não me importo de esperar o embrulho de um presente. Não me importo de esperar suas discussões de fim de noite. Não me importo de esperar seu beijo de café cortado. Não me importo de esperar sua ressaca depois da dança.

O que desejo dizer é que não precisa se apressar. Nunca chegará atrasada porque sempre estarei a esperando.

Carpinejar

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Palcos da vida... (Por Nicole)


Seria a nossa vida como uma peça teatral??
Primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto ato...
Cada ato sendo o complemento do já passado no ato anterior, ou a simples negação deste passado em um novo ato totalmente diferente...
Seria então cada novo ato uma simples catapulta para uma viagem contínua e sem fim até o fechar das cortinas... ou seria "a pedra sobre" que acaba de vez com alguma coisa, anulando ela totalmente em busca do novo...
Diariamente ensaiamos repetidamente em nossas cabeças momentos que nem ao menos sabemos se um dia se apresentarão...
Fantasiando momentos... sonhando sonhos impossíveis...criando até mesmo demônios... Preparamos frases para serem ditas, ensaiamos nossa postura frente aos fatos...até mesmo entramos em depressão antes da hora... por aquele emprego que queremos e não temos, por amores vividos ou que virão, ou aquele sonho de ganhar na loteria e mudar totalmente a vida... Pensamos...criamos...fantasiamos... nos cobramos diariamente...ininterruptamente...
Hum...sim...atores são seres humanos, e vivemos como em uma peça teatral (analogia fajuta), só que em um palco giratório sem cenas preparadas, apenas quem sabe, com nossas frases ensaiadas que podem nunca ser ditas (ou sim)...
É...A vida é o maior espetáculo de todos... Deixa estar...

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Tudo e nada...(por Nicole)

Sinto tudo e nada ao mesmo tempo...
O vazio parece corroer por dentro e o nada parece tomar conta do tudo... Será o cansaço??
Ao mesmo tempo que desejo sair e me jogar na noite, desejo também apenas ficar na minha cama, quietinha com meus livros.
Assim como quero você, não quero você.
Ando cada dia mais cética...para tudo pondero e relativizo, construo e logo depois desconstruo...acho que realmente me tornei pós estruturalista.
Acho que ando no limbo, com meus sentimentos tomados pelo vazio.
Acho que o certo mesmo é relativizar, mas não chegando ao ponto de se tornar radical e deixando tudo no marasmo. Dificil heim...
Sim, sei que é dificil, mas a vida e o tempo ensinam a lidar... Quer saber, o certo mesmo é viver... E eu reconheço, sei que a vida vai pra algum lugar que a gente sempre acha!!
Só falta achar!! Mas, como disse C. F. Abreu: "Relaxa baby e flui".

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Minha pequena revolta....(Por Nicole)


"O trabalho enobrece o homem".
Affff... pela primeira vez preciso discordar do mestre Max Weber... diga-se de passagem, ando em uma fase que se eu encontrasse com ele na rua ía mesmo é querer tirar esta história a limpo...
To achando mesmo é que o trabalho envelhesse o homem... isto quando não empobrece o pobre coitado também...
Hoje abri meu face e fui ler a frase do dia do nosso pequeno mestre Calvin, eis que ele disse o seguinte: "Nada é ruim o suficiente que não possa piorar". Perfeito!!! É a frase que mais digo e vejo as pessoas dizerem durante o expediente de trabalho...
Bem, sei que tenho conseguido não trazer o stress da vida de trabalho para minha vida pessoal (ufa...já bastam os outros), mas, impossível não trazer junto, depois de algumas horas sob tensão, o cansaço...
E estou cansada!! Hoje teria um happy hour com amigos se não tivesse minha aula de inglês, mas estou tão exausta, até as partes do meu corpo se movem com frequências retardadas, acho que vou mesmo é ficar em casa na cama...como se fosse um ser amorfo... teria que ir ao mercado comprar comida, mas afff, acho que neste caso, cabe pedir uma pizza!!
Afinal, aqui dentro de minha casa eu não sou obrigada... e também, no final tudo acaba em pizza né!!!??

Namastê,
Nicole

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O que a gente vem fazendo?‏

A sociedade humana está, atualmente, endurecida. Também o governo e tantas outras coisas essenciais. A realidade nos cega e temos nos mostrado refratários às mudanças necessárias para manter nossa dignidade e vocação existencial. Avidez, ostentação e desperdício eclipsam os sonhos. Os ideais caem diante das posturas predadoras. Sobriedade, respeito mútuo, cooperação e tolerância decrescem. O que se avizinha? Crises e desastres?

Como explica o eminente cientista britânico James Lovelock: não é a Terra que está ameaçada, mas a civilização. Vou além e digo que a ameaça coloca contra a parede, também, nesse momento delicado que atravessamos, nossa inteligência espiritual, as chances de evolução que generosamente recebemos e que não temos sabido aproveitar, desperdiçando tristemente.

Estamos no topo da cadeia alimentar, somos, com gigantescas vantagens, os operadores das mais avançadas tecnologias do planeta, mesmo assim instituições sérias de análise encontram mais de 350 tipos de poluentes no leite materno. Estamos intoxicando nossas mães e bebês, envenenando o mais etéreo e sublime dos alimentos. Capazes das maiores proezas científicas, mágicas tecnológicas, por que não mantemos limpo o alimento que, afinal, trouxe-nos até aqui? É de se pedir socorro? O que gritariam os bebês... se pudessem?

Consumo desenfreado, esgotamento, desmatamento, emissão de gases, avanço do asfalto sobre os campos, desaparecimento de espécies, comprometimento da água, desequilíbrios e excessos. Quando teremos a grandeza espiritual de perceber que devemos nos mexer, mudar o curso, acertar prioridades. O espírito não precisa de lucros, precisa de vida. Pois é sobre ela que ele desabrocha, encontra e realiza seus significados.

Prisioneiros, nossos espíritos estão morrendo enclausurados. De carro para o trabalho com ar-condicionado, compras em shoppings e supermercados sem janelas, em casa - trancados -, computador e televisão, filhos nos games. Naufragamos no contato com a sociedade, Robinsons Crusoés sem sexta-feira, sem qualquer fiapo de contato humano para refletir nosso rosto de volta.

O pior, contudo, na minha opinião, está no que vou apontar agora, como reflexão final, clamando para que mentalizem pelas mudanças que nos recolocariam nos trilhos do fortalecimento espiritual, no caminho de comunhão com o Sagrado dentro de nós. O pior é o tédio da miséria. Explico. A miséria, gente extraviada, comendo lixo, difundiu-se a tal ponto que, sim, virou uma enfadonha banalidade. Exaustos de contemplá-la, nas cidades, as pessoas já não conseguem mais encará-la, não prestam mais atenção.

Estarrecida, me calo. Meus leitores, vocês, sei, estão procurando crescimento esotérico, né? Passo primeiro e mais decisivo, simples assim: saibam que acolher cada um e todos como irmãos é, de Buda a Cristo, de São Francisco a Chico Xavier, nosso compromisso.

(Texto de Marina Gold retirado do site do Terra)

http://vidaeestilo.terra.com.br/esoterico/interna/0,,OI4912737-EI14323,00-Nossos+espiritos+estao+morrendo+enclausurados+diz+vidente.html

O mundo parece estar virado de cabeça para baixo, as pessoas, as industrias, muitos estão fazendo tudo errado, poluindo, pensando apenas em si e em dinheiro, sem pensar e observar que suas atitudes influenciam em milhares de vidas e na vida das próximas gerações...
Este texto serve para a reflexão sobre nós e nossas atitudes no mundo... tem seus toques exotéricos, mas é valido para todas pessoas humanas independente de crenças...

Namastê,

Nicole

sábado, 22 de janeiro de 2011

Encontros e despedidas

Maria Rita

Composição: M. Nascimento E F. Brant

Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço, venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero

Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim, chegar e partir

São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também de despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida

domingo, 9 de janeiro de 2011

...

“O amor tem suas razões, que a lógica não compreende, como o destino tem suas ironias, que a razão não explica.”

Achei esta frase no orkut de uma amiga...não faço idéia de quem seja a autoria... aproveito para desejar a todos um feliz 2011...

Namastê,
Nicole

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

AFRICA, PRECONCEITO E FUTEBOL

Hoje é um dia triste para mim...eu como COLORADA estou realmente chateada com a derrota do meu time do coração para o africano Mazembe no mundial de clubes FIFA.
Mas...tudo neste mundo é bom para a reflexão, e quero fazer a minha reflexão sobre os fatos, sobre a Africa, preconceitos, o futebol e sobre o meu colorado.
É interessante ver o quanto os torcedores adversários, e digo isto no futebol em geral, gostam de desdenhar as conquistas de seus rivais, dizendo que só ganhou pq o campeonato estava fácil, que no campeonato só tinham times fracos.
Hoje foi a estréia do Inter no mundial e todos os gremistas com quem conversei diziam que seria fácil para o Colorado, toda a mídia dava a vitória do inter como certa, alguns colorados tb achavam que seria fácil, eu, como sempre, acredito que só se canta vitória após o apito final.
Temos aqui no Brasil o pensamento de achar que temos o melhor futebol do mundo, e por isto somos incapazes de reconhecer quando um outro time é melhor que o nosso, quando times brasileiros ou nossa seleção perdem é pq jogamos mal, nunca o outro foi melhor.
Todos sabiamos (menos a midia) que o Mazembe não seria um adversário fácil, é um time sem muita qualidade técnica, porém organizado, com jogadores fortes e muito dedicados e aplicados técnicamente.
Estão falando que o Inter entrou de salto alto, discordo, achei que o Colorado entrou concentrado e respeitando o adversário (porém um pouco nervoso com a estréia). O salto alto foi mesmo é na imprensa, que a todo momento ignorou o africano Mazembe, dando a vitória do colorado como certa e apenas projetando o confronto Inter POA x Inter Milão.
Precisamos de uma mídia decente, que pare de ter suas preferencias futebolisticas, como é o caso dos queridinhos Corinthias, Flamengo e a própria seleção brasileira. Precisamos de uma midia que tenha respeito a todos, aos times africanos, árabes, orientais e tb aos times de menor porte e de fora do centro do país.
Foi-se o tempo em que o Brasil tinha o melhor futebol do mundo. O mundo de hoje é globalizado e no futebol não é diferente, paises que antes não tinham tradição e eram tidos como zebra hoje investem fortunas e se desenvolvem e crescem.

Chega de preconceito na midia!! Viva a globalização no futebol!!!

Quanto ao meu colorado, jogou melhor mas não soube finalizar. O Mazembe soube e por isto mereceu a vitória.
Parabéns aos africanos que eternamente foram e ainda são subjugado por todos, eles estão a anos pedindo passagem..
Quanto a mim, secarei a Inter de Milão, gostaria demais de ver a "zebra africana" x "zebra coreana" na final do mundial de clubes, pra calarem a boca de europeus e sulamericanos que pensam que apenas eles sabem jogar e que pensam que possuem o melhor futebol do mundo desdenhando todos os outros .

INTER... PARA SEMPRE VOU TE AMAR!!

Namastê,
Nicole

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A natureza pede socorro!!!

Mais uma vez esta semana e semana passada foi possível assistirmos a morte de milhares de peixes nos rios do Sinos e Guaíba.
Trabalho em uma empresa que precisa captar água do Rio dos Sinos para os seus processos, no nosso lago peixes estavam agonizando e morrendo, analisei a água que estava vindo do Rio dos Sinos e ela possuia nada mais nada menos do que 0,1mg/L de Oxigênio dissolvido, ou seja, isto é nada de oxigênio. A última vez que vi uma água assim vindo do Sinos foi em 2006 quando mais de um milhão de peixes morreram.
Precisamos urgentemente rever nossos conceitos e comportamento junto ao nosso meio ambiente.
Diáriamente despejamos nossos esgotos domésticos nas águas dos rios que posteriormente novamente irão virar a água que bebemos.
Precisamos aprender a não desperdiçar água, precisamos denunciar as empresas que não tratam seus efluentes e os largam diretamente nos rios, precisamos cobrar de nossos governantes o tratamento de nossos esgotos, precisamos colocar o dedo na nossa consciencia no momento em que estamos construindo nossas casas e incluir em nossas obras a fossa séptica, canso de ver por aí esgoto doméstico sendo largado diretamente nas redes de esgoto sem nenhum tratamento.

SE NÃO PRESERVARMOS O MEIO AMBIENTE E MUDARMOS NOSSOS COMPORTAMENTOS DENTRO DE POUCOS ANOS ESTAREMOS VIVENDO NO MEIO DE NOSSA PRÓPRIA MERDA!!!

Namastê,
Nicole

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Aumento de histórias de intolerância assusta os brasileiros

Geralmente critico muito a Rede globo pelas suas posturas...mas esta reportagem vale a pena ser vista...
CHEGA DE TANTA INTOLERANCIA!!!! Que a gente viva buscando o amor, a compaixão e a paz no mundo...

Namastê,
Nicole

http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1631444-15605,00-AUMENTO+DE+HISTORIAS+DE+INTOLERANCIA+ASSUSTA+OS+BRASILEIRO

TV GLOBO / FANTÁSTICO – 22/11/10
Aumento de histórias de intolerância assusta os brasileiros
O Fantástico investiga o que existe por trás de tantos casos de intolerância.
O Fantástico deste domingo (21) fala da palavra que ficou na cabeça dos brasileiros essa semana. Intolerância nas ruas de São Paulo, do Rio de Janeiro, dentro de um avião. Intolerância que se espalhou e matou um brasileiro em Portugal. Que se espalha em vídeos como este, exclusivo, que você vai ver agora.

Intolerância ao extremo. São vídeos e fotos de grupos neonazistas do Rio Grande do Sul.

“Um dia, eu fiz uma pergunta pra um dos rapazes ‘mas por que dessa violência ?’ Sabe por quê? Uma barata é uma subespécie, uma sub-raça. Dá mesma forma o negro, o judeu, o homossexual”, contou o delegado Paulo César Jardim.

Adoradores de Adolf Hitler, os neonazistas dizem seguir uma ideologia. “A intolerância não tem justificativa. Ela é irracional, vai além do que é saudável, vai além do que é esperado”, afirmou a psicóloga Desirée Monteiro Cordeiro.

Mas como explicar quando a intolerância e a violência não surgem de grupos tão radicais assim? De pessoas aparentemente normais.

“Falou que a gente era brasileira, preta e pobre. Prostituta, chamou de prostituta, que a gente tava se roçando com os homens”, disse a dançarina Edimara Elba Castro dos Santos.

“Diziam que nós éramos uma raça desgraçada por sermos homossexuais”, contou uma vitima.

“Ele atirou porque eu disse pra ele que meus pais sabiam de mim. Eu era assumido”, contou o rapaz. Ser homossexual nunca foi problema dentro de casa para o carioca de 19 anos. O tiro na barriga, disparado por um sargento do Exército do Forte de Copacabana, serviu para unir a família ainda mais. “Disse que eu era uma vergonha pra minha família. Por mim, eu não teria nem denunciado. Eu só estou fazendo o que eu estou fazendo por causa da minha mãe”.

“Eu estou fazendo com que meu filho coloque isso pra frente, mas também por causa de outras pessoas que não tiveram oportunidade de se defender. Pelos amigos do meu filho, pelos amigos dos amigos”, disse a mãe do jovem.

O Brasil é o país que mais mata homossexuais no mundo. Ano passado, foram 198 assassinatos. A informação é da Associação Internacional de Gays e Lésbicas, com representação em quase todo o mundo.

Alessandro Araújo é professor de filosofia. Em 2007, na região da Avenida Paulista, em São Paulo, ele foi espancado por quatro integrantes de um grupo que odeia homossexuais: “Eles me atacavam com chutes e com chutes no rosto. Tanto que aqui eu perdi dois dentes e ainda tive um corte bem profundo na boca”, lembrou o filósofo.

Quando o espancamento e a sexualidade dele vieram a público, muitos tiveram uma reação inesperada. O professor ficou só. “Ainda me emociono com o caso, você perder a família, perder o emprego, perder os amigos, tudo ao mesmo tempo”, contou.

À noite, os bares e as boates da Avenida Paulista e das ruas próximas atraem jovens de todas as tendências. Os grupos radicais, que pregam a violência e o ódio, também circulam na avenida. Os alvos são sempre os mesmos: homossexuais, travestis, nordestinos e negros.

“São geralmente atos bastante covardes. Em geral, as pessoas são atacadas sem perceber isso”, afirma Franco Reinaldo, da coordenadoria de assuntos da diversidade sexual de São Paulo.

Morador da região, o professor falou sobre a violência contra três jovens, que aconteceu às 6h30 de domingo passado na Paulista. Um dos rapazes é ferido com lâmpadas fluorescentes. A polícia suspeita que os agressores, quatro menores e um rapaz de 19 anos, teriam agido porque as vítimas aparentavam ser homossexuais.

Segundo Alessandro Araújo, é comum o ataque de grupos radicais nesse horário: “Justamente, foi de manhã porque é de manhã o horário que os gays costumam sair das boates”.

“Não é qualquer pessoa que faz isso. Uma pessoa que tem algum distúrbio, algum desvio. E vai partir pra cima quando encontrar algo que incomode muito, seja gay, negro, estrangeiro”, conta a psicóloga Desirée Monteiro Cordeiro.

Durante seis meses, a banda “Arte Dance Bahia” se apresentou em palcos peruanos, a mais de cinco mil quilômetros de casa.

“No Peru nós fomos tratados como celebridades. As pessoas faziam filas e filas pra ver a gente, pra tirar foto”, lembrou o dançarino Igor Souza Silva.

“Eles gostavam da nossa cor, do nosso jeito de ser, do nosso cabelo”, completou Edimara Elba Castro dos Santos, bailarina.

Esta semana, o grupo já estava dentro do avião, voltando para o Brasil.

“Tinha uma pessoa sentada no banco da frente da gente, uma loira dos olhos claros. Aí essa senhora falou: ‘se eu soubesse que tinha preto e pobre dentro do avião, eu não pegaria esse voo. Eu trocaria de voo’. A gente foi muito ofendida. Muito”, contou Edimara Elba Castro dos Santos.

A mulher que teria feito as ofensas é uma médica brasileira, de 45 anos. No aeroporto de Guarulhos, São Paulo, ela foi indiciada por injúria. A pena é de um a três anos de cadeia.

“Perante a delegada e um delegado que tava na sala. Ela falou: ‘Gente, me desculpa’, pegou na mão da gente: ‘Me desculpa, eu estou muito arrependida de ter falado isso pra vocês’. É muito fácil pedir desculpa depois”, completou Edimara.

Tentamos falar com a médica, mas ela não retornou as nossas ligações.

Alguns vídeos apreendidos há duas semanas, em Porto Alegre, mostram até que ponto a intolerância pode chegar. Os policiais também encontraram várias fotos. Os suspeitos de participar do grupo neonazista já foram identificados. Segundo a investigação, uma tragédia poderia ter acontecido.

“O objetivo era explodir uma sinagoga e em um segundo momento eles pretendiam fazer um ataque na passeata gay, a passeata do movimento livre, que acontece em Porto Alegre, no Parque da Redenção”, contou o delegado Paulo Cesar Jardim.

Nos vídeos, aparece o senador gaúcho Paulo Paim: “Eles podem estar tentando me assustar, mas não conseguirão. Eu vou continuar defendendo tanto os idosos quanto os negros, pessoas com deficiência, os judeus, os palestinos, os nordestinos. Eu não aceito nenhum tipo de discriminação”, afirma o senador.

Este homem foi atacado por um grupo neonazista gaúcho. Foi cercado por quatro criminosos, apanhou e levou uma facada no pescoço. “Começaram a proferir palavras de ordem racista. Negro sujo, nós vamos te matar, essa raça não presta, vamos exterminar todo mundo”, disse o homem que não quis ser identificado.

Luciano da Silva, 28 anos, marceneiro. A polícia de Portugal investiga se ele foi vítima de xenofobia, que é a intolerância contra estrangeiros. Ele foi morto a facada, depois de urinar numa rua de Caldas da Rainha, cidade com 50 mil habitantes, a 100 quilômetros de Lisboa.

O Fantástico foi até lá. A mulher de Luciano conta que o casal e mais dois amigos, também brasileiros, voltavam de um bar.

“Fez xixi, vinha descendo um homem: ‘só veio aqui pra estragar o nosso país. Brasileiro de m***, porco de m***. Vai pra sua terra’. Ele foi ficando nervoso e eu pedindo: ‘Luciano, calma’. E ele foi e retrucou: ‘Eu já estou farto de vocês, essa porcaria desse país, preconceituoso’”, contou Andressa da Silva, mulher de Luciano.

Andressa fala que foi pedir ajuda e que logo depois os amigos avisaram que Luciano estava ferido.

“Eu encontrei ele exatamente caído no chão. Eu estou tentando ser forte, mas está sendo tão difícil. Cada vez que a Isadora chama o pai, me dói demais, demais”, lembra Andressa.

O assassino ainda não foi identificado.

“O preconceito está relacionado à falta de conhecimento, a ignorância também. A gente teria que trabalhar realmente na educação”, afirmou o filósofo Luiz Paulo Rouanet.

“Educar dentro de uma concepção de cidadania, de garantia de direitos, de respeito ao próximo”, disse a defensora pública Maíra Coraci Diniz.

“Se a pessoa é gorda, se a pessoa é baixa, se a pessoa tem deficiência, isso não se faz com ninguém que é um ser humano”, completou a bailarina Edimara Elba Castro dos Santos.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Relato pessoal de porque voto em Dilma para presidente... (por Nicole)

Quem me conhece hoje deve pensar que tudo sempre foi as mil maravilhas na minha vida, que nunca passei trabalho... enganam-se...
Realmente tive uma vida boa até meus 11 ou 12 anos de idade (1995 ou 96), vivendo em uma familía legitimamente patriarcal, onde meu pai trabalhava sustentando a casa e onde minha mãe cuidava do lar e educava os filhos.
Acontece que a coisa mudou, quando naquela maldita época meu pai perdeu o emprego e não conseguiu achar outro, fomos pouco a pouco perdendo tudo que tinhamos, a casa da praia que tinha sido herança do meu avô, um terreno que tinha sido herança do meu outro avô, os dois carros que tinhamos na garagem e a boa casa onde viviamos.
Enquanto meu pai e minha mãe saíam inutilmente em busca de empregos, a vida continuava e chegamos a ficar sem dinheiro até mesmo para comer. Poucos sabem, mas chegamos a viver muito tempo com a ajuda de cestas básicas que recebíamos de uma de minhas tias. Neste meio tempo eu tb estava fazendo meu curso técnico na Liberato, e só conseguia ir as aulas pq minha dinda me dava mensalmente 50 reais para que eu pudesse pagar a mensalidade, pegar diáriamente o ônibus ida e volta para Novo Hamburgo e almoçar nos dias em que eu tinha aula nos dois turnos.
Depois de um tempo minha mãe começou a trabalhar, conseguiu um contrato emergencial no estado para dar aulas de português, era ela quem sustentava a familia a partir de então.
Depois de muitos anos vivendo com o mínimo, sem poder comer um sorvete quando tinhamos vontade, usando as roupas usadas de meus primos, as coisas foram se ajeitando, meus pais se separaram, minha mãe passou no concurso do INSS e eu comecei a trabalhar como técnica química em um curtume de Estância Velha, levantava todos os dias as 5h20min da manhã.
Hoje posso dizer que estou em uma situação mais confortável, passei no concurso Refap em 2006 e tenho o suficiente para pagar minhas contas e levar a vida numa boa, compro as minhas roupas, como em restaurantes quando tenho vontade, financiei um carro a perder de vista, financiei um apartamento em 15 anos, após 7 anos terminei a graduação em Ciências Sociais e me programando bem consegui inclusive viajar para fora do país nas minhas férias.
Quem me conhece só de hoje não sabe que houveram dias em que não se tinha nem dinheiro para colocar o pão na mesa na minha casa.
A maioria das pessoas tb pensa que eu trabalho em uma empresa pública, quando na verdade a Refap é a única refinaria da Petrobras que teve 30% de seu capital privatizado na época do governo FHC, fomos os primeiros a sofrer com a privatização, as outras refinarias só não foram privatizadas pq Lula venceu a eleição de 2002.
Mas por que eu voto na Dilma??
Voto em Dilma pq se tenho um emprego na Refap hoje é pq em 2002 o Lula e o PT assumiram o governo não permitindo que FHC terminasse de desmontar a Petrobras como estava programado. Pq após anos e anos sem admissões foi feito concurso afim de remontar a companhia.
Voto em Dilma pq a economia cresceu, e hoje não devemos mais nem um centavo para o FMI.
Mas, o principal motivo pelo qual voto em Dilma é pq nestes 8 anos do governo Lula 28 milhões de pessoas deixaram a pobreza para trás e conseguiram melhorar de vida, deixaram de passar fome e conseguiram um emprego.
Precisamos deixar de olhar apenas para nossos umbigos e pensar que pessoas que antes tinham fome hoje vivem em situações bem melhores.
Muitos criticam o Bolsa familia e até mesmo as cotas para negros, dizendo que o governo faz caridade ou que ao gerar as cotas está aumentando o preconceito.
Precisamos nos dar conta de que vivemos quase 500 anos em um país onde o negro foi escravizado, se hoje a maioria da população pobre e miserável é negra, isto é pq nós fizemos eles assim por 500 anos, temos uma grande dívida com eles, a única forma de tentarmos retirar um pouco este atraso é gerando oportunidades para que eles possam crescer. O mesmo vale para o PROUNI, precisamos dar a chance para que as pessoas de mais baixa rendam consigam crescer.
Quanto ao Bolsa Família, que muitos chamam de assistencialismo, é importante que se saiba que não é apenas "assistencialismo", pois para receber o auxilio as crianças devem frequentar as escolas e são oferecidos tb cursos técnicos para os adultos. Com toda a certeza o certo é ensinar a pescar ao invés de apenas dar o peixe, mas, no caso do bolsa familia, estamos lidando com tamanha pobreza que se o dinheiro da bolsa não existisse, continuariamos vendo pessoas passando fome, e com certeza quem tem fome não consegue frequentar a escola e muito menos trabalhar.
Hoje sou independente, graças ao "assistencialismo" da minha dinda quando eu precisei estudar, se ela não me desse mensalmente aquele dinheirinho talvez eu tivesse parado de estudar para ir trabalhar e ajudar em casa... o mesmo vale para o bolsa familia...com o tempo os cidadãos não precisarão mais dela.
Acredito em um país com mais justiça social, por este motivo é que hoje sou graduada em sociologia, se quisermos um país melhor e mais justo, precisamos dar oportunidades para aqueles que mais precisam, e para que isto continue acontecendo VOTO DILMA 13.

Nicole 18.10.10

http://www.youtube.com/watch?v=KktqykS8roQ&feature=player_embedded

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Eleições 2010 - Verdadeira vergonha!! (por Nicole)

Estive viajando em férias durante quase todo o mês de setembro, retornando para o Brasil apenas no inicio de outubro, por este motivo perdi toda a reta final da campanha eleitoral. Apenas agora estou conseguindo me atualizar sobre todos os ocorridos e posso dizer que estou ESCANDALIZADA.
Estive lendo a minha caixa de e-mails e a mesma encontra-se entupida por mensagens eleitoreiras totalmente sem conteúdo politico, apenas piadas ou boatos maldosos sobre a Dilma. Propostas do candidato Serra eu não recebi NENHUMA!!
Sobre o que dizem de a Dilma ser assassina, sugiro que antes de apenas acreditarem em informações manipuladas e contadas pela metade, o povo deveria parar e estudar apenas um pouquinho sobre a história do Brasil e principalmente sobre o periodo MALDITO da ditadura militar, onde todo o povo brasileiro teve podadas suas diversas liberdades (como as de expressão, imprensa e organização), naquela época foram tiradas dos curriculos os ensinos de sociologia e filosofia, para o governo militar não interessava um povo que pensasse, sendo assim,
milhares de pessoas (inclusive a Dilma) foram torturadas e outras tantas mortas em todos os cantos do país, outros tantos tiveram que fugir e se exilar em outros países como por exemplo Caetano Veloso, Gilberto Gil, Lula, José Serra, Zé Dirceu, Brizola, Betinho, Chico Buarque, Raul Seixas, Oscar Niemeyer entre diversos outros. Eu, naquela época, também estaria muito provavelmente figurando na lista dos torturados, dos exilados ou até mesmo dos mortos...
Acho um absurdo que Serra esteja usando tal assunto em sua campanha sendo que ele foi um dos que sofreu na época da ditadura militar!!!

Sobre o aborto: inicialmente acho importante salientar que este assunto é um tema de saúde nacional e que enquanto todos politicos fazem vista grossa para ele, milhares e milhares de mulheres morrem todos os dias. O estado é laico, penso que o aborto deva ser discutido com seriedade e sem influência de entidades religiosas. Pouco me interessa que os candidatos sejam a favor ou contra o aborto, o fato é que o assunto urge e precisa ser pensado no país.
Agora, ver campanhas como a de Serra que pregam o confronto religioso é uma vergonha!!
Ele não tem o direito fazer campanha usando tal assunto pois quando ministro da saúde em 1998 foi ele quem ordenou e assinou as regras para fazer os abortos previstos em lei (link da lei: http://www.cfemea.org.br/pdf/normatecnicams.pdf ). Portanto, Serra jamais pode receber o voto de quem milita incondicionalmente contra qualquer prática relacionada ao aborto.
Quanto a Marina Silva, simpatizei com ela no primeiro turno, acho que ela tem um belo futuro politico pela frente e o Brasil ainda pode ganhar muito com ela, mas, isto vai depender muito de sua postura e da postura do PV no segundo turno, acredito que ela não deva apoiar nenhum dos candidados, até porque ela disparou contra todos no primeiro turno. Se ela apoiar a Dilma eu até entenderia por ela ter suas origens no PT e ter um pensamento mais "de esquerda", mas, se ela apoiar Serra, aí sim vai ir contra toda a sua ideologia e sua história de vida. Sobre cargos e ministérios, se o PV e a Marina resolverem dar seu apoio para aqueles que oferecerem mais vantagens, sinceramente, daí acho que ela jogou todo o seu discurso no lixo e eu perderei toda a admiração que tenho por ela, vai mostrar que não tem nada de novo, e que a terceira via verde não passa da velha estrada lamacenta e cheia de lixo que todos já conhecem.

Links interessantes:
Pronunciamento dos Batistas: http://www.aliancadebatistas.com.br/page/modules/smartsection/item.php?itemid=28
Sobre o golpe: http://pt.wikipedia.org/wiki/Golpe_de_Estado_no_Brasil_em_1964
Lista de exilados, mortos e presos:
http://pt.wikipedia.orgwikiLista_de_cassados,_exilados,_presos,_torturados
_ou_mortos_pelo_Regime_Militar_de_1964

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

ABORTO

TEXTO RETIRADO DO BLOG http://cafeeaspirinas.blogspot.com/
O mesmo trata sobre o aborto e o fato de ele ter virado assunto eleitoral apenas na busca por votos, sem ter sido realmente pensado e discutido seriamente em momento algum por ninguém...

Ser ou não ser contra: esta não é a questão

O aborto é uma discussão séria que está sendo reduzida a um embate eleitoreiro entre Serra e Dilma. O aborto acontece todos os dias, queiramos ou não, sejamos nós contra ou a favor. As mulheres fazem aborto há centenas de anos, é o método contraceptivo mais antigo, por muitos considerado mais seguro e menos prejudicial à saúde do que a pílula. Desde que feito por um médico e em condições adequadas, óbvio.

A discussão que precisa ser travada sem descanso é o que fazer para que as mulheres parem de morrer por abortar em casa, usando agulhas de tricô, ou em consultórios podres, nas mãos de açougueiros. Esta sim é uma questão séria, de saúde pública, para a qual todos, repito, todos os governos viram as costas.

Por medo de tratar de um assunto que envolve questões morais e religiosas e com isso perder alguns currais eleitorais e apoios financeiros de empresários conservadores ligados a igrejas poderosas, os governantes estão deixando milhares de mulheres morrerem todos os anos. O aborto clandestino é a quarta causa de morte materna no Brasil. Das 87 milhões de mulheres que sofrem todo ano no planeta com o peso de uma gravidez indesejada, mais da metade aborta. Das 46 milhões de mulheres que optam por abortar, 18 milhões o fazem em condições precárias, de forma insegura, insalubre, porque não têm recursos próprios e porque não há amparo legal para que esse procedimento seja realizado em hospitais públicos. Dessas 18 milhões de mulheres abandonadas por seus governantes, 70 mil morrem, ou no momento do aborto ou por infecções consequentes. São dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), não foram inventados por mim, e são baseados em abortos relatados - o número concreto de abortos clandestinos ninguém sabe.

Grande parte dessas mulheres aborta porque já tem filhos e não pode arcar financeiramente com mais uma vida, especialmente nesse novo mundo em que as mulheres se tornam cada vez mais as provedoras do lar. Estas deixam órfãos, pra completar a desgraça. Enquanto políticos demagogos e fanáticos religiosos discutem se é criminosa ou não a interrupção de uma vida embrionária, milhares de crianças estão perdendo suas mães para o aborto clandestino. Mães que são tratadas como criminosas pelo poder público, quando deveriam ser amparadas e orientadas.

E agora, Zé? E agora, Dilma? Quais são seus planos pra evitar o assassinato dessas milhares de mulheres brasileiras, essa chacina que acontece anualmente nas barbas dos nossos governantes? O que vocês propõem para estancar o sangue de milhares de ex-rainhas do lar, hoje chefes de família apavoradas e desamparadas?

Esta é a minha questão, e é urgente.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

HETERONORMATIVIDADE

Segue na sequência um texto longo...que eu e minha turma do pós discutimos em aula... vale a leitura e a reflexão!!
A autora é a Guacira Lopes Louro, uma de nossas professoras na UFRGS e figura muito importante no Brasil quando se trata de estudos de gênero, sexualidade e educação.
Namastê,
Nicole

Heteronormatividade e homofobia

Guacira Lopes Louro/UFRGS

Notas para conferência de abertura do
I Simpósio Paraná-São Paulo de Sexualidade e Educação Sexual,
Araraquara, abril de 2005.


Um diário, escrito no século XIX, é descoberto muitos anos depois. Trata-se das memórias de um jovem hermafrodita que narra suas poucas alegrias e suas muitas tristezas e angústias ao longo da curta vida. Herculine Barbin é inicialmente criada como uma moça, Alexina, no interior de um internato feminino católico e, posteriormente, é reconhecido como sendo um rapaz e se vê obrigado a trocar de sexo. As humilhações e o drama que experimenta neste processo acabam por levá-lo ao suicídio. A história talvez não seja tão extraordinária ou incomum, mas o fato é que as memórias desse jovem acabaram sendo publicadas, já em pleno século XX, precedidas de um texto de Michel Foucault. Apesar de toda a curiosidade que pode cercar o diário de Alexina/Herculine, o que me interessa particularmente explorar, neste momento, é o pequeno prefácio de Foucault, ou, mais precisamente, aproveitar a pergunta inicial que ele faz para também com ela iniciar minha fala. Escreve Foucault: “Precisamos verdadeiramente de um verdadeiro sexo?” E continua, respondendo em seguida: “Com uma constância que chega às raias da teimosia, as sociedades do ocidente moderno responderam afirmativamente a essa pergunta”.

Neste pequeníssimo trecho, já se colocam duas expressões que me parecem especialmente instigantes: o sexo e a verdade. Sobre elas eu gostaria de provocar vocês. Afinal estamos reunidos num simpósio de Sexualidade e, provavelmente, aqui nos veremos enredados em debates que mobilizam várias perspectivas teóricas – todas a seu modo verdadeiras.

No texto de Foucault, há, por um lado, o encaminhamento de uma resposta à pergunta que propôs: ele indica, de forma categórica, que o sexo, melhor será dizer a sexualidade, se constituiu em uma questão não só importante, mas perturbadora e decisiva para as sociedades ocidentais.

Por outro lado, propõe a questão da verdade. Vale dizer que o filósofo teve o cuidado de destacar graficamente, neste prefácio, o advérbio verdadeiramente e o adjetivo verdadeiro. Evidentemente, não posso afirmar com segurança porque ele fez isso, mas acho razoável supor que ele quisesse nos lembrar que colocava essas expressões sob suspeita.

Seguindo o pensamento de Foucault, poderíamos dizer que uma “verdade” só aparece quando pode aparecer. Em um dado momento, um conjunto de circunstâncias se combina e possibilita que algo seja admitido como verdade. Esse conjunto de circunstâncias está atravessado e ordenado por determinadas relações de poder. Sendo assim, é possível compreender que determinadas relações de poder permitem que determinadas “verdades” (e não outras) apareçam. Daí que os saberes ou os enunciados “verdadeiros” em torno dos quais nós vivemos e com os quais lidamos cotidianamente precisam ser analisados em função das estratégias de poder que os sustentam. Isso vale para as teorias, leis ou regras do passado, mas deve valer, também, para aquelas que hoje abraçamos, para aquelas que nos mobilizam e nas quais apostamos.

É claro que é mais fácil assumir uma postura crítica em relação ao passado. É provável que possamos entender que determinadas estratégias e tecnologias de poder estão articuladas na constituição dos discursos “científicos” antigos; por exemplo, discursos que “comprovavam” que tais e tais sujeitos ou que tais e tais práticas eram sadios ou doentes, positivos ou negativos. Há que admitir que foi e que é assim que se produzem discursos jurídicos, religiosos, educativos, psicológicos os quais mostram ou tornam evidente os sujeitos e as práticas que são bons ou que são maus, integrados ou desintegrados, produtivos ou prejudiciais para o conjunto da sociedade. Determinadas relações e as estratégias de poder se sustentam através desses saberes e “verdades”, elas precisam desses discursos para se tornarem evidentes o que, paradoxalmente, faz com que essas relações de poder se tornem invisíveis. Não há como negar (e isso muitos de nós podemos atestar por experiência própria) que quanto menos for notada ou quanto mais for invisível uma relação de poder mais ela será eficiente.

Sabemos também que, num determinado momento (que, numa perspectiva foucaultiana poderia ser compreendido como o século XIX, talvez mais especialmente a metade final desse século), passou-se a prestar uma especialíssima atenção à definição da sexualidade. A questão da sexualidade tornou-se central para os estados e também para os indivíduos. Na verdade, o processo já vinha se desenrolando há algum tempo, desde o século XVIII, pelo menos: transformações políticas, culturais, sociais e econômicas articuladas ao industrialismo e à revolução burguesa, acompanhadas por uma outra divisão sexual do trabalho e, junto com ela, pela circulação de idéias de caráter feminista, foram constituindo todo um conjunto de condições para que os corpos, a sexualidade e a existência de homens e mulheres fossem significados de outro modo. Laqueur (1990) diz que se construiu, por essa época, um novo corpo sexuado. Mas ele alerta que não seria adequado afirmar que qualquer um desses eventos “provocou a construção desse novo corpo sexuado”, em vez disso, seria importante lembrar que “a reconstrução do corpo é, ela própria, intrínseca a cada um desse desenvolvimentos” (Laqueur, 1990, p. 11).

Este estudioso conta que, até o inicio do século XIX, as sociedades ocidentais tinham um modelo sexual que hierarquizava os sujeitos ao longo de um único eixo, cujo vértice era o masculino. Entendia-se que os corpos de mulheres e de homens diferiam em “graus” de perfeição; a “verdade” era que as mulheres tinham, “dentro de seu corpo”, os mesmo órgãos genitais que os homens tinham externamente. Em outras palavras, afirmava-se, cientificamente, que “as mulheres eram essencialmente homens nos quais uma falta de calor vital – de perfeição – havia resultado na retenção, interna, de estruturas que nos machos eram visíveis” (Laqueur, 1990, p.4). A substituição desse modelo (de um único sexo) pelo modelo de dois sexos opostos, que é o modelo que até hoje prevalece, não foi um processo simples, nem linear. Essa transformação de ordem epistemológica – e também política, é claro – se deu junto com todo aquele conjunto de transformações que mencionei anteriormente. E, por um largo tempo, houve embate e disputa entre esses modelos sexuais.

Nessa nova compreensão da sexualidade passava-se a prestar uma atenção especial aos corpos, às suas estruturas e características materiais e físicas. Antes, a explicação para as formas de relacionamento entre mulheres e homens e para as diferenças percebidas entre eles era buscada na Bíblia, nos textos sagrados; essas diferenças eram, enfim, vinculadas a uma dimensão cósmica mais ampla. O corpo tinha, então, menos importância. Mas agora ele passaria a ter um papel primordial. Como diz Linda Nicholson (2000), o corpo se tornou causa e justificativa das diferenças. O corpo passou a ser aquilo que dá origem às diferenças.

O que temos aqui, então, é a constituição de uma nova episteme, de um novo conjunto de regras ou de formas de compreender e dar sentido ao mundo. Novos saberes, novas verdades são instituídas. Como parte desse contexto – aliás como parte especialmente importante – foram sendo construídas novas formas de representar e dar significado ao homem e à mulher, às suas relações, à sexualidade.Tais mudanças não são nada banais: elas são constituídas e constituintes de outras estratégias e relações de poder.

Como os novos estados nacionais estarão agora, mais do que antes, preocupados em controlar suas populações e garantir sua produtividade, seus governantes vão investir, então, numa série de medidas voltadas para a vida: passam a disciplinar a família e a dar especial atenção à reprodução e às práticas sexuais. É importante prestar atenção em quem, neste contexto, tem autoridade para afirmar a verdade e quem será o alvo preferencial de ação dos governos.

Ao final do século XIX, serão homens, médicos e também filósofos, moralistas e pensadores (das grandes nações da Europa) que vão fazer as mais importantes“descobertas” e definições sobre os corpos de homens e mulheres. Será o seu olhar “autorizado” que irá estabelecer as diferenças relevantes entre sujeitos e práticas sexuais, classificando uns e outros sob o ponto de vista da saúde, da moral e da higiene. Não é de estranhar, pois, que a linguagem e a ótica empregadas em tais definições sejam marcadamente masculinas; que as mulheres sejam concebidas como portadoras de uma sexualidade ambígua, escorregadia e potencialmente perigosa; que os comportamentos das classes média e alta dos grupos brancos das sociedades urbanas ocidentais tenham se constituído na referência para estabelecer o que era ou não apropriado, saudável ou bom. Nascia a sexologia. Inventavam-se tipos sexuais, decidia-se o que era normal ou patológico e esses tipos passavam a ser hierarquizados. Buscava-se, tenazmente, conhecer, explicar, identificar e também classificar, dividir, regrar e disciplinar a sexualidade. Tais discursos, carregados da autoridade da ciência, gozavam do estatuto de verdade e se confrontavam ou se combinavam com os discursos da igreja, da moral e da lei.

É nesse contexto que surge o homossexual e a homossexualidade. Práticas afetivas e sexuais exercidas entre pessoas de mesmo sexo (que sempre existiram, em todas as sociedades) ganham agora uma nova conotação. Não serão mais compreendidas, como eram até então, como um acidente, um pecado eventual, um erro ou uma falta a que qualquer um poderia incorrer, pelo menos potencialmente. Por certo, em muitas sociedades, aqueles que incorriam nessa falha mereciam ser punidos e o perdão lhes era concedido a duras penas (quando era!). No entanto, agora tais práticas passam compreendidas de um modo bem distinto. Entende-se que elas revelam uma verdade oculta do sujeito. O homossexual não era simplesmente um sujeito qualquer que caiu em pecado, ele se constituía num sujeito de outra espécie. Para este tipo de sujeito, haveria que inventar e pôr em execução toda uma seqüência de ações: punitivas ou recuperadoras, de reclusão ou regenerção, de ordem jurídica, religiosa ou educativa.

Tendo sido nomeado o homossexual e a homossexualidade, ou seja, o sujeito e a prática desviantes, tornava-se necessário nomear, também, o sujeito e a prática que lhes haviam servido como referência. O que era “normal” até então não tinha um nome. Era, supostamente, onipresente, evidente por si mesmo e, conseqüentemente (por mais paradoxal que pareça) era invisível. O que até então não precisara ser marcado agora também tinha de ser identificado. Daí o surgimento da expressão heterossexual e heterossexualidade.

Estabelecia-se, a partir daí, o par heterossexualidade/homossexualidade (e também heterossexual/homossexual) como uma oposição fundamental, decisiva e definidora de práticas e sujeitos. Uma oposição que compreende o primeiro elemento como primordial e o segundo como subordinado. Uma oposição que, segundo teóricos contemporâneos, está onipresente em nossas sociedades, marcando saberes, instituições, práticas, valores. Consolidava-se um marco, uma referência mestra para a construção dos sujeitos.

Na perspectiva pós-estruturalista, seria nossa função, como intelectuais, perturbar a aparente solidez desse par binário. Se acompanharmos o que diz Derrida, entenderemos que esses dois elementos estão mutuamente implicados, dependem um do outro para se afirmar, supõem um ao outro. Ainda que, por toda a parte, se afirme a primazia da heterossexualidade, já observamos que, curiosamente, ela se constituiu como a sexualidade-referência depois da instituição da homossexualidade. A heterossexualidade só ganha sentido na medida em que se inventa a homossexualidade. Então, ela depende da homossexualidade para existir. O mesmo pode ser dito em relação ao sujeito heterossexual: sua definição carrega a negação de seu oposto. Ao dizer: eu sou heterossexual, um homem ou uma mulher acaba, invariavelmente, por ter de recorrer a algumas características ou marcas atribuídas ao homossexual, na medida em que ele ou ela precisa afirmar, também, o que não é. Do outro lado do par o movimento será o mesmo: a homossexualidade também precisa da heterossexualidade para dizer de si. Há uma reciprocidade nesse processo. A dicotomia se sustenta numa única lógica.

Mas a manutenção dessas posições hierarquizadas não acontece sem um investimento continuado e repetitivo. Para garantir o privilégio da heterossexualidade – seu status de normalidade e, o que ainda é mais forte, seu caráter de naturalidade – são engendradas múltiplas estratégias nas mais distintas instâncias (na família, na escola, na igreja, na medicina, na mídia, na lei). Através de estratégias e táticas aparentes ou sutis reafirma-se o principio de que os seres humanos nascem como macho ou fêmea e que seu sexo – definido sem hesitação em uma dessas duas categorias – vai indicar um de dois gêneros possíveis – masculino ou feminino – e conduzirá a uma única forma normal de desejo, que é o desejo pelo sujeito de sexo/gênero oposto ao seu.

Esse alinhamento (entre sexo-gênero-sexualidade) dá sustentação ao processo de heteronormatividade, ou seja, à produção e reiteração compulsória da norma heterossexual. Supõe-se, dentro dessa lógica, que todas pessoas sejam (ou devam ser) heterossexuais – daí que os sistemas de saúde ou de educação, o jurídico ou o mediático sejam construídos à imagem e semelhança desses sujeitos. São esses sujeitos que estão plenamente qualificados para usufruir desses sistemas ou de seus serviços e para receber os benefícios do estado. Os outros, que fogem à norma, poderão, na melhor das hipóteses, ser reeducados, reformados (se for adotada uma ótica de tolerância e complacência) ou serão relegados a um segundo plano (tendo de se contentar com recursos alternativos, restritivos, inferiores), quando não são simplesmente excluídos, ignorados ou mesmo punidos. Ainda que se reconheça tudo isso, a atitude mais freqüente é a desatenção ou a conformação. A heteronormatividade só é reconhecida como um processo social, ou seja, como algo que é fabricado, produzido, reiterado e somente passa a ser problematizada a partir da ação de intelectuais ligados aos estudos de sexualidade, especialmente aos estudos gays e lésbicos e à teoria queer.

Stevi Jackson (2005) diz que a grande utilidade do conceito de heteronormatividade “consiste em poder nos alertar para as formas pelas quais a norma heterossexual é tramada no tecido social de nossas vidas numa série de níveis, do institucional ao cotidiano” e que isso se dá de forma consistente, ainda que, por vezes, seus efeitos sejam contraditórios. Ele sugere, também, que se pense nas intersecções entre heterossexualidade e gênero, afirmando que essas intersecções são complexas.

O processo de reiteração da heterossexualidade adquire consistência (e também invisibilidade) exatamente porque é empreendido de forma continuada e constante (e também, muitas vezes, sutil) pelas mais diversas instâncias sociais. Os discursos mais autorizados nas sociedades contemporâneas repetem a norma regulatória que supõe um alinhamento entre sexo-gênero-sexualidade. Por certo circulam também (e cada vez com mais força) discursos divergentes e práticas subversivas dessa norma, produzidos a partir das posições subordinadas. Os movimentos organizados das chamadas “minorias sexuais” têm conseguido, nas últimas décadas, expressivos avanços no campo midiático ou mesmo jurídico, com alguns efeitos, também, no campo que atuamos, o da educação. Há, contudo, sérios limites nesse processo, os quais pretendo indicar a seguir. Antes, me parece importante enfatizar dois pontos:

Primeiro, que a norma precisa ser reiterada, constantemente. Não há nenhuma garantia que a heterossexualidade aconteça naturalmente, pois, se isso fosse seguro, não seriam feitos tantos esforços para afirmar e reafirmar essa forma de sexualidade. Segundo, que a norma pode e é subvertida. Todos os dias, em todos os espaços, homens e mulheres desafiam esta norma. Alguns sujeitos embaralham códigos de gêneros ou atravessam suas fronteiras; alguns articulam de formas distintas sexo-gênero-sexualidade; outros ainda criticam a norma através da paródia ou da ironia. A heteronormatividade se constitui, portanto, num empreendimento cultural que, como qualquer outro, implica em disputa política.

Outra idéia sugestiva é a de que há, provavelmente, especiais intersecções entre heterossexualidade e gênero. Temos de reconhecer que sexualidade e gênero estão profundamente articulados, talvez mesmo, muito freqüentemente, se mostrem confundidos. Experimentações empreendidas no “território” da sexualidade acabam por ter efeitos no âmbito do gênero. Basta lembrar quão freqüentemente se atribui a um homem homossexual a qualificação de “mulherzinha” ou se supõe que uma mulher lésbica seja uma mulher-macho. A transgressão da norma heterossexual não afeta apenas a identidade sexual do sujeito mas é, muitas vezes, representada como uma “perda” do seu gênero “original”. Penso que, em nossa cultura, esse movimento, ou seja, o processo de heteronormatividade seja exercido de modo mais intenso ou mais visível em relação ao gênero masculino. Como educadoras, observamos que, desde os primeiros anos de infância, os meninos são alvo de uma especialíssima atenção na construção de uma sexualidade heterossexual. As práticas afetivas entre meninas e mulheres parecem ter, em nossa cultura, um leque de expressões mais amplo do que aquele admitido para garotos e homens. A intimidade cultivada nas relações de amizade entre mulheres e a expressão da afetividade por proximidade e toque físico podem borrar possíveis divisórias entre essas relações de amizade e relações amorosas e sexuais. Daí que a homossexualidade feminina pode se constituir de forma mais invisível. Abraços, beijos, mãos dadas, a atitude de “abrir o coração” para a amiga/parceira são práticas comuns do gênero feminino em nossa cultura. Essas mesmas práticas não são, contudo, estimuladas entre os meninos ou entre os homens. A “camaradagem” masculina tem outras formas de manifestação: poucas vezes é marcada pela troca de confidências (muito comum entre as mulheres); e o contato físico ainda que plenamente praticado em algumas situações (nos esportes, como no futebol, por exemplo) se dá cercado de maiores restrições entre eles do que entre elas (não só em termos das áreas do corpo que podem ser tocadas como do tipo de toque que visto como adequado).

O processo de heteronormatividade não apenas se torna mais visível em sua ação sobre os sujeitos masculinos mas aparece aí, mais freqüentemente, associado com a homofobia. Pela lógica dicotômica, os discursos e as práticas que constituem o processo de masculinização implicam na negação de práticas ou características referidas ao gênero feminino e essa negação se expressa, muitas vezes, por uma intensa rejeição ou repulsa dessas práticas e marcas femininas (o que caracterizaria, no limite, a misoginia). É possível observar, ainda, que, na construção da identidade de gênero masculina, a centralidade da sexualidade tem sido mais reiterada, culturalmente, do que na construção da identidade feminina (pelo menos em sociedades como a nossa). Uma vida sexual ativa – leia-se uma vida heterossexual ativa – parece ser um elemento recorrente na representação da masculinidade (não acontecendo o mesmo em relação à feminilidade). Vale lembrar, por exemplo, o quanto a impotência sexual é representada, em nossa cultura, como uma grave ameaça à identidade masculina. Podemos dizer que os discursos e as práticas envolvidas no processo de masculinização se vêem inundados pela preocupação em afastar ou negar qualquer vestígio de desejo que não corresponda a norma sancionada. O medo e a aversão pela homossexualidade são cultivados em associação à heterossexualidade.

Evidentemente, tudo isso é cultural, histórico, portanto dinâmico, ou seja, passível de transformações. Antes, afirmei que, ao lado dos discursos que reiteram a norma heterossexual, circulam também discursos divergentes e práticas subversivas, e parece notório que esses processos de subversão e desafio da norma vêm se tornando, contemporaneamente, cada vez mais visíveis. Sugeri, contudo que há limites nesse processo e gostaria de fazer um breve comentário a respeito.

A premissa sexo-gênero-sexualidade sustenta-se numa lógica que supõe o sexo como “natural”, entendendo este natural como “dado”. Ora, dentro desta lógica, o caráter imutável, a-histórico e binário do sexo impõe limites à concepção de gênero e de sexualidade. Na medida em que se equaciona a natureza (ou o que é “natural”) com a heterossexualidade, isto é, com o desejo pelo sexo/gênero oposto, se passa a supô-la como a forma compulsória de sexualidade. Dentro desta lógica, os sujeitos que, por qualquer razão ou circunstância, escapam da norma e promovem uma descontinuidade na seqüência serão tomados como “minoria” e serão colocados à margem tanto das preocupações da escola, como da justiça ou da sociedade em geral. Paradoxalmente, esses sujeitos “marginalizados” continuam necessários, pois servem para circunscrever os contornos daqueles que são normais e que, de fato, se constituem nos sujeitos que importam. O limite do “pensável”, no campo dos gêneros e da sexualidade, fica circunscrito, pois, aos contornos dessa sequência “normal”. Como a lógica é binária, há que admitir a existência de um pólo desvalorizado – um grupo designado como minoritário que pode ser tolerado como desviante ou diferente; contudo, é insuportável pensar em múltiplas sexualidades. A idéia de multiplicidade escapa da lógica que rege toda essa questão. E acho que aqui se inscreve um importante limite desse processo epistemológico. Poderíamos perguntar: onde ficam os sujeitos que não ocupam nenhum dos dois lados dessa polaridade? Como se representa, o que se “faz” com os sujeitos bissexuais, transgêneros, travestis, com as drags?

A episteme dominante não dá conta da ambigüidade e do atravessamento das fronteiras de gênero e de sexualidade. A lógica binária não permite pensar o que escapa do dualismo. Não tenho qualquer pretensão de sugerir uma resposta para esse impasse. Parece-me, no entanto, sugestivo encerrar esta fala que, privilegiadamente, abre este seminário, propondo a ousadia para problematizar o estatuto de “verdade” da dicotomia heterossexualidade/homossexualidade como categoria explicativa da sociedade contemporânea. Será possível descontruir essse binarismo? Demonstrar suas formas de produção? Estranhar sua intrincada presença na intimidade das instituições sociais, nos processos de produção do conhecimento e das relações entre os sujeitos?