sábado, 29 de novembro de 2008

COMEÇAR DE NOVO

Lendo um e-mail escrito por Luis Fernando Gigena, morador de SC / Itajaí ele citou a seguinte frase entre muitas outras...

"É hora de recomeçar, e talvez seja hora de recomeçar não só materialmente. Talvez seja uma boa oportunidade de renascer, de se reinventar e de crescer como ser humano.
Pelo menos é a minha hora, acredito."

E citou tb um poema escrito por um argentino numa grande enchente ocorrida a alguns anos atrás. Segue o poema...


COMEÇAR DE NOVO

Eu tinha medo da escuridão
Até que as noites se fizeram longas e sem luz
Eu não resistia ao frio facilmente
Até passar a noite molhado numa laje
Eu tinha medo dos mortos
Até ter que dormir num cemitério
Eu tinha rejeição por quem era de Buenos Aires
Até que me deram abrigo e alimento
Eu tinha aversão a Judeus
Até darem remédios aos meus filhos
Eu adorava exibir a minha nova jaqueta
Até dar ela a um garoto com hipotermia
Eu escolhia cuidadosamente a minha comida
Até que tive fome
Eu desconfiava da pele escura
Até que um braço forte me tirou da água
Eu achava que tinha visto muita coisa
Até ver meu povo perambulando sem rumo pelas ruas
Eu não gostava do cachorro do meu vizinho
Até naquela noite eu o ouvir ganir até se afogar
Eu não lembrava os idosos
Até participar dos resgates
Eu não sabia cozinhar
Até ter na minha frente uma panela com arroz e crianças com fome
Eu achava que a minha casa era mais importante que as outras
Até ver todas cobertas pelas águas
Eu tinha orgulho do meu nome e sobrenome
Até a gente se tornar todos seres anônimos
Eu não ouvia rádio
Até ser ela que manteve a minha energia
Eu criticava a bagunça dos estudantes
Até que eles, às centenas, me estenderam suas mãos solidárias
Eu tinha segurança absoluta de como seriam meus próximos anos
Agora nem tanto
Eu vivia numa comunidade com uma classe política
Mas agora espero que a correnteza tenha levado embora
Eu não lembrava o nome de todos os estados
Agora guardo cada um no coração
Eu não tinha boa memória
Talvez por isso eu não lembre de todo mundo
Mas terei mesmo assim o que me resta de vida para agradecer a todos
Eu não te conhecia
Agora você é meu irmão
Tínhamos um rio
Agora somos parte dele
É de manhã, já saiu o sol e não faz tanto frio
Graças a Deus
Vamos começar de novo.

Anônimo

De minha parte, fico triste por tudo que aconteceu, mas ao mesmo tempo feliz por ver que ainda existe solidariedade e amor entre os seres humanos, diversas foram as formas de mobilização para tentar ajudar... acredito que esta é a nossa missão no mundo, ser feliz e ajudar aqueles que precisam... que estes momento tristes, sirvam tb para a gente rever nossos conceitos e valores... para vermos que unidos conseguimos ir muito longe...
Paz e luz a todos...
Nic

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A vida é simples assim...

A vida é simples assim...

- Mestre, como faço para me tornar um sábio?

- Boas escolhas.

- Mas como fazer boas escolhas?

- Experiência - diz o mestre.

- E como adquirir experiência, mestre?

- Más escolhas.



Tão simples... mas esta é a vida... a experiência, o tempo, ensinamentos que vamos aprendendo dia a dia, a cada vivência, a cada erro...

Namastê.

Nic

sábado, 8 de novembro de 2008

O lenhador - Monja Coen

Um pequeno (nem tão pequeno) texto da Monja Coen.
Ontem (07.11) ela esteve em São Léo, nos abrilhantando com sua sabedoria, ensinamentos e sua tranquilidade... queria que muitas pessoas pudessem ter ouvido suas palavras... palavras que nos fazem refletir e nos transmitem muita paz, luz e amor...
Namastê...
Nicole




O lenhador
Havia um lenhador que procurava pela árvore da paz. Ele a procurava nos lugares mais remotos, onde ser humano ainda não houvesse trilhado. Escalava as montanhas mais altas, pendurava-se à beira de grandes abismos. Há anos viajava o lenhador, passando por vários países, pedindo informações. Houve quem disse:
— Meu avô me contou que seu avô lhe contara que havia uma árvore assim. Era imensa, frondosa. As pessoas se sentavam à sua sombra e descansavam felizes, tranqüilas, em paz.
O lenhador experimentava várias árvores. Sentava-se à sua sombra, mas surgiam pensamentos, sons, imagens, nevoeiros. Surgiam guerras, massacres, dores, mortes, grandes desastres. Cabisbaixo se afastava e noutra região procurava.Foram se passando os anos. Seus cabelos embranqueceram. Suas sobrancelhas também.
Suas pernas já não eram tão fortes. O machado fora trocado por um cajado. Mas não desistira da empreitada. Por toda a Terra caminhava, perguntando a toda gente, esperando que alguém, que alguma coisa lhe levasse à árvore tão almejada.
Um certo dia parou, cansado e pensativo. Será que era fantasia, que na verdade não existia essa árvore da Paz? Encostou-se num tronco qualquer, apoiando-se no braço para que os passantes não vissem que chorava de cansaço. As lágrimas foram caindo no terreno seco e árido. Soluçava nosso amigo, da procura de uma vida. Mesmo se a encontrasse agora como poderia levar suas sementes a tantas e tantas gentes?
Correra o mundo, é verdade. Estava a poucos passos da cidade de onde saíra, jovem e bem disposto, confiante que encontraria a legendária árvore que tudo transformaria. Tinha se tornado impossível viver como todos viviam. Roubavam e mentiam, medrosos se escondiam dos mais fortes, temerosos. Alguns ricaços gorduchos, panças inchadas de tanto luxo. Outros magros, arqueados, de fome morrendo dobrados. Havia os roncos medonhos de aviões tenebrosos, lançando bombas que em sangue marcavam o território. Havia a disputa mesquinha, que levava ao preconceito e à discriminação. Crianças eram abusadas, maltratadas, empregadas a pedir esmolas por jogar algumas bolas nas esquinas de quem tinha muito para dar e nada dava.
Ele era um lenhador, saído dos contos de fadas, das histórias mais antigas de aventuras e justiça, de verdades que são ditas e transformam realidades. Crescera sonhando um dia poder tudo revirar para que a paz retornasse ao seu lar e a de seus amigos, vizinhos, conhecidos e até mesmo de estranhos que estranhamente se comportavam...
Caminhara e caminhara. Ouvira histórias fantásticas, daquele homem da Índia que conseguira mudanças sem guerras, sem violências, no respeito e na decência. Mahatma Gandhi. Bom demais pensou quando menino lendo de sua história. Foi colocando na sacola os livros, os sonhos, a esperança. Na Índia também houvera o Buda Sagrado, que predissera que um dia tudo se transformaria. As pessoas confiavam que se seguissem seus ensinamentos haveria compaixão e sabedoria suprema. Logo a ternura se espalharia e todos se ajudariam como bons irmãos.
Cada lágrima dos olhos do ancião fazia brotar na terra um verde inesperado.
Teria sido por tudo e por todos, abandonado?
Mas de dentro dele surgiu uma força incomensurável. “Nada é impossível. Haverei de conseguir encontrar o fruto dessa árvore de paz, a semente da verdade.”
Ainda de olhos molhados, sentou-se ofegante. Tocou a terra coberta de grama nova, macia. Encostou-se no tronco forte e sem perceber, meditava.
No que se seguia lembrou-se do próprio Buda, que vivera na Índia por volta do século VI antes de Cristo, e a todos amavelmente sorria. Monges e monjas, pessoas de todas classes, castas, feições, cores, etnias. A todos Buda pregava dizendo dos venenos perigosos que matam a paz, a felicidade, a alegria.
O primeiro é a ganância. Quero e quero sem parar. Por mais que tenha sempre quero mais. Seja amor de minha mãe, atenção do professor, seja doce, sejam roupas, sejam carinhos, sejam diversões. Seja dinheiro, seja fama, seja luxo, sejam armas, seja amor. Dessa ganância vão surgindo ciúmes, ressentimentos, más ações e pensamentos. Logo faz algo errado, perde a paz, a tranqüilidade. Vive sedento de tudo e nada traz felicidade. Só o que cura esse mal é a doação, o entregar-se, o dar invés de cobrar.
O segundo é a raiva, danada de se conter. Enfurece por amor, por ódio e até por prazer. Parece que a pessoa passa a achar bonito quem fica furioso. Chega até a dizer que é “personalidade forte”. Na verdade são seres para serem apiedados, pois não conseguem, coitados, transformar a indignação em suave compaixão.
Compaixão significa saber o que o outro sente, compartilhar das tristezas, das dores das amarguras e fazer trabalho lindo de recuperar as criaturas. Porque sente com. Porque sente junto. Nós não rimos quando alguém conta uma coisa engraçada? Não choramos com filmes, histórias, foto, situações? Quando sabemos de alguém sofrendo queremos ajudar. A compaixão é natural, se formos naturais.
O terceiro veneno é a ignorância. Ignorância significa afastar-se da verdade. Estar dividido, partido, sem saber mais que somos uma só vida em movimento. Somos um só corpo universal se transformando constantemente. No que mexemos aqui, lá do outro lado repercute. Essa ignorância não é apenas falta de estudos. É falta de contato com o Sagrado, com a Essência de tudo.
Seu antídoto infalível é a Sabedoria Completa. O resultado de tudo é a árvore da Paz florindo e cobrindo o mundo.